Você já ouviu falar em lipedema? Muitas pessoas, especialmente mulheres, convivem com esse problema sem nem saber que ele tem nome e, mais ainda, que existe tratamento.

Por ser uma condição muitas vezes confundida com obesidade ou retenção de líquidos, o lipedema é frequentemente negligenciado, tanto por quem sofre com ele quanto por profissionais de saúde.
Neste post, vamos mergulhar fundo nesse assunto e mostrar tudo o que você precisa saber sobre o lipedema: o que é, quais são seus sintomas, como é feito o diagnóstico, quais os tratamentos disponíveis e como essa doença impacta a vida de milhares de brasileiras.
Continue lendo e descubra se você — ou alguém que você conhece — pode estar sofrendo com lipedema sem saber!
Tópicos deste artigo:
- O que é Lipedema?
- Causas e fatores de risco
- Sintomas do lipedema
- Estágios da doença
- Diferenças entre lipedema, obesidade e linfedema
- Como é feito o diagnóstico?
- Tratamentos disponíveis
- FAQ (Perguntas Frequentes)
- Conclusão
- Referências oficiais
1. O que é Lipedema?
O lipedema é uma doença crônica, progressiva e quase exclusivamente feminina, caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura subcutânea — geralmente nos membros inferiores e, em alguns casos, nos braços. Diferente da obesidade, essa gordura não responde à dieta nem ao exercício físico.
Esse acúmulo de gordura vem acompanhado de dor, inchaço, sensibilidade ao toque e, muitas vezes, sensação de peso e desconforto contínuo. O problema tende a se agravar com o tempo, especialmente se não for identificado precocemente.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), o lipedema pode afetar cerca de 11% das mulheres. Em 2022, a doença foi oficialmente reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID-11).
2. Causas e Fatores de Risco
O lipedema é uma doença que ainda intriga muitos especialistas. Apesar de ser reconhecida como uma condição médica real e debilitante, suas causas exatas ainda não são totalmente compreendidas pela ciência.
No entanto, estudos nacionais e internacionais já apontam para uma combinação de fatores genéticos e hormonais como os principais desencadeadores dessa condição.
Vamos entender cada um deles com mais clareza:
- Fator Genético: a herança familiar
Um dos aspectos mais relevantes na origem do lipedema é o fator hereditário. Muitas mulheres que recebem o diagnóstico relatam que mães, avós ou irmãs apresentam ou apresentaram sintomas semelhantes, embora muitas vezes sem o nome correto para isso.
Pesquisas indicam que até 60% dos casos de lipedema têm histórico familiar. Isso reforça a hipótese de que há uma predisposição genética, ou seja, a pessoa já nasce com a tendência de desenvolver a doença, que pode ser “ativada” em determinados momentos da vida, especialmente sob influência hormonal.
Segundo a médica Dra. Débora Rodrigues, especialista em lipedema e membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), “não é incomum que o diagnóstico seja feito em mulheres que só percebem que o problema é genético depois que outra mulher da família também apresenta os mesmos sintomas”.
- Fator Hormonal: o papel dos hormônios femininos
Outro fator decisivo para o desenvolvimento do lipedema é o hormonal. A doença tem uma relação direta com os níveis de estrogênio, o principal hormônio feminino, e por isso ela afeta quase exclusivamente mulheres.
Os períodos da vida em que há grandes alterações hormonais costumam coincidir com o surgimento ou agravamento do lipedema. São eles:
- Puberdade: momento de grande transformação hormonal no corpo feminino. É comum que o lipedema comece a se manifestar a partir dos 12 a 15 anos.
- Gravidez: o aumento do estrogênio e da progesterona, somado à retenção de líquidos e à mudança no peso, pode intensificar os sintomas.
- Uso de anticoncepcionais hormonais: algumas mulheres relatam aumento de dor ou volume nos membros após iniciar o uso de anticoncepcionais.
- Menopausa: apesar da queda no estrogênio, as mudanças hormonais na menopausa também podem desencadear ou intensificar os sintomas do lipedema.
Essa ligação com os hormônios é tão forte que alguns especialistas chegam a considerar o lipedema como uma doença endocrinológica também, e não apenas vascular ou estética.
- Outros fatores associados (não causadores, mas agravantes)
Além dos dois principais fatores – genético e hormonal – há outras condições que não causam o lipedema diretamente, mas podem piorar seus sintomas ou acelerar sua progressão:
- Estilo de vida sedentário: a falta de atividade física compromete a circulação linfática e venosa, agravando o inchaço e a dor.
- Sobrepeso e obesidade: embora o lipedema seja diferente da obesidade, o acúmulo de gordura generalizada pode mascarar os sintomas e sobrecarregar as articulações.
- Problemas circulatórios ou linfáticos pré-existentes: podem dificultar ainda mais a drenagem dos líquidos e causar sensação de “peso” ou inchaço mais intenso.
- Alimentação inflamatória: dietas ricas em açúcar, ultraprocessados e gorduras trans podem gerar inflamação crônica, que agrava os sintomas dolorosos do lipedema.
O que dizem os especialistas?
De acordo com a Dra. Karen Lemos, angiologista e referência nacional em lipedema, “essa é uma doença que tem base genética e é modulada por hormônios. Por isso, ela precisa ser compreendida com um olhar multidisciplinar: vascular, hormonal, metabólico e psicológico”.
Ela reforça ainda que o diagnóstico precoce e a orientação correta desde o início dos sintomas são fundamentais para evitar que o quadro evolua para estágios mais severos e impacte de forma irreversível a qualidade de vida da paciente.
3. Sintomas do Lipedema
Identificar o lipedema pode ser desafiador, principalmente nos estágios iniciais, pois seus sintomas são frequentemente confundidos com sinais de obesidade, celulite ou até má circulação. No entanto, a forma como os sintomas aparecem e se desenvolvem é única, e saber reconhecê-los é essencial para buscar ajuda especializada.
⚠️ Sintomas mais comuns:
- Acúmulo simétrico de gordura: afeta principalmente pernas e coxas, e em alguns casos os braços, sempre de forma igual dos dois lados.
- Dor persistente: uma das marcas do lipedema é a dor ao toque e a sensação de queimação, que pode variar de leve a intensa.
- Sensação de peso e fadiga: é comum a queixa de pernas pesadas, cansadas, mesmo após pouco esforço físico.
- Hematomas frequentes: surgem com facilidade, mesmo com leves batidas ou sem motivo aparente.
- Inchaço que piora ao longo do dia: geralmente diminui com o repouso noturno, mas retorna no fim da tarde.
- Desproporção corporal: tronco magro com pernas muito volumosas, gerando constrangimento e baixa autoestima.
- Pés e mãos poupados: ao contrário de outras doenças circulatórias, o lipedema não afeta pés nem mãos, o que ajuda a diferenciá-lo de outras condições.
É importante frisar que a dor no lipedema não é “normal” — e muito menos psicológica. Ela é real, incapacitante e afeta o dia a dia das pacientes.
4. Estágios da Doença
O lipedema é uma condição progressiva, ou seja, tende a se agravar com o tempo quando não é tratada adequadamente. Ele é classificado em quatro estágios principais, que indicam a gravidade da doença e a complexidade do tratamento.
Estágio 1:
- Pele ainda lisa e sem alterações visíveis.
- Gordura subcutânea mais espessa, com pequenos nódulos (como “bolinhas de arroz”).
- Inchaço discreto no final do dia.
- Dor leve ou incômoda.
Estágio 2:
- Aparência irregular da pele, com afundamentos visíveis (similar à celulite severa).
- Nódulos maiores sob a pele, já palpáveis.
- Aumento da dor e maior frequência de hematomas.
- Dificuldade em usar roupas que antes serviam bem.
Estágio 3:
- Formação de dobras volumosas de gordura e deformidades visíveis, especialmente nos joelhos, coxas e tornozelos.
- A mobilidade começa a ser comprometida.
- Dor constante e dificuldade para realizar atividades simples.
- Impacto psicológico mais acentuado.
Estágio 4 (Lipo-linfedema):
- Acúmulo de linfa (líquido corporal) além da gordura, caracterizando um quadro associado de linfedema.
- Inchaço persistente, mesmo em repouso.
- Risco de infecções, inflexibilidade das articulações e dores incapacitantes.
Quanto mais precoce o diagnóstico, maior a chance de evitar os estágios avançados e manter qualidade de vida com intervenções menos invasivas.
5. Diferenças entre lipedema, obesidade e linfedema
Um dos maiores desafios enfrentados pelas pessoas com lipedema é o erro diagnóstico, principalmente pela semelhança com outras condições. Vamos entender como diferenciá-las de forma clara:
Lipedema:
- Gordura localizada e simétrica (pernas e braços).
- Pés e mãos poupados.
- Dor e hematomas fáceis.
- Resistente a dietas e exercícios.
- Presença de nódulos e sensação de queimação.
Obesidade:
- Acúmulo de gordura distribuído por todo o corpo.
- Sem dor específica ao toque.
- Responde a dietas, exercícios e intervenções metabólicas.
- Não gera hematomas espontâneos.
- Pode coexistir com o lipedema, dificultando o diagnóstico.
Linfedema:
- Inchaço geralmente assimétrico (apenas uma perna ou braço).
- Afeta pés ou mãos (o que não ocorre no lipedema).
- Pele endurecida, com textura diferente.
- Possível presença de líquido acumulado (linfa).
- Pode causar infecções e inflamações frequentes.
Saber diferenciar essas condições é fundamental para um tratamento correto e eficaz, e muitas pacientes só descobrem que têm lipedema após passarem por diversos especialistas ao longo dos anos.
6. Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico do lipedema ainda é um grande desafio no Brasil, principalmente porque poucos profissionais de saúde foram treinados para reconhecê-lo. Como a doença não tem um exame específico laboratorial, o diagnóstico é clínico, ou seja, feito por meio de observação dos sintomas, análise da história médica e exame físico.
🧑⚕️ Avaliação clínica:
- Análise do histórico familiar e de alterações hormonais.
- Verificação de desproporções no corpo.
- Palpação da gordura: no lipedema, ela é mais “dura” e dolorida.
- Exclusão de outras doenças (como insuficiência venosa ou linfedema).
🧪 Exames complementares (ajudam, mas não são obrigatórios):
- Ultrassonografia de partes moles: avalia características da gordura e descarta linfedema.
- Ressonância magnética: em casos avançados ou quando há dúvida diagnóstica.
- Bioimpedância: analisa distribuição de gordura corporal.
- Questionários clínicos: como o desenvolvido pelo Hospital das Clínicas da USP.
O ideal é buscar angiologistas, cirurgiões vasculares ou fisioterapeutas linfoterapeutas especializados em lipedema. Infelizmente, ainda há muito preconceito e desinformação, o que pode atrasar o diagnóstico por anos.
7. Tratamentos Disponíveis
Apesar de não ter cura definitiva, o lipedema pode ser tratado com grande sucesso, proporcionando mais qualidade de vida, redução da dor e melhora da autoestima. O tratamento é multidisciplinar e deve ser ajustado conforme o estágio da doença.
🍎 Tratamento clínico e mudanças de estilo de vida:
- Dieta anti-inflamatória: rica em vegetais, frutas, proteínas magras e gorduras boas. Deve evitar ultra processados, açúcar e sal em excesso.
- Exercícios físicos regulares: caminhadas, hidroginástica, yoga e pilates ajudam a melhorar a circulação sem causar impacto nas articulações.
- Controle do peso corporal: ainda que o lipedema não esteja ligado diretamente à obesidade, o excesso de peso pode piorar os sintomas e causar sobrecarga articular.
💆♀️ Terapias físicas:
- Drenagem linfática manual: ajuda a reduzir o inchaço e o desconforto.
- Terapia compressiva: uso de meias e roupas de compressão para melhorar o retorno venoso.
- Massagem especializada (maderoterapia, liberação miofascial): pode aliviar dores e melhorar o contorno corporal.
🔪 Cirurgia (em casos mais graves):
- Lipoaspiração específica para lipedema: diferente da lipo tradicional, essa cirurgia é feita por profissionais especializados e visa preservar os vasos linfáticos.
- Ajuda a reduzir dor, mobilidade limitada e o volume de gordura.
- Pode ser realizada em várias etapas e exige um acompanhamento multidisciplinar no pós-operatório.
🧠 Apoio psicológico:
A dor crônica, o preconceito, o impacto na autoimagem e o sentimento de impotência são frequentes entre as pacientes. O suporte emocional com psicólogos e grupos de apoio é fundamental para o sucesso do tratamento.
✨ O tratamento ideal é aquele que respeita a individualidade da paciente, promove bem-estar e ajuda a reconquistar o controle da própria saúde.
A importância de dar nome à dor
O lipedema é muito mais do que um problema estético — é uma doença crônica, progressiva e dolorosa, que afeta milhões de mulheres no Brasil e no mundo.
E o mais alarmante é que grande parte dessas mulheres nem sequer sabe que tem a doença. Muitas são diagnosticadas erroneamente com obesidade, celulite ou problemas vasculares, enfrentando anos de frustração, dor e culpa sem entender o que está acontecendo com o próprio corpo.
Reconhecer o lipedema como uma condição médica real, com sintomas claros e tratamento multidisciplinar, é o primeiro passo para romper o ciclo de desinformação e sofrimento silencioso.
Quanto mais cedo for identificado, maiores são as chances de evitar complicações graves e preservar a mobilidade, a autoestima e a qualidade de vida.
Por isso, se você se identificou com os sintomas descritos aqui ou conhece alguém que pode estar passando por isso, não ignore os sinais. Busque ajuda de um profissional especializado e informe-se.
FAQ – Perguntas Frequentes sobre Lipedema
1. Lipedema tem cura?
Não. Ele é uma condição crônica, ou seja, ele não tem cura definitiva. No entanto, com diagnóstico precoce e tratamento adequado, é possível controlar os sintomas, evitar a progressão da doença e garantir mais qualidade de vida para a paciente.
2. É possível emagrecer com lipedema?
Sim, mas com algumas limitações. O lipedema não responde bem a dietas tradicionais, pois a gordura acometida pela doença é resistente à perda de peso. Ainda assim, adotar hábitos saudáveis, alimentação anti-inflamatória e exercícios físicos regulares ajudam a reduzir inflamações e controlar a progressão da doença. O emagrecimento pode ocorrer nas partes não afetadas, como tronco e rosto.
3. Lipedema é o mesmo que obesidade?
Não. Embora possam coexistir, são condições diferentes. A obesidade é um acúmulo generalizado de gordura corporal e responde bem à dieta e ao exercício. Já o lipedema é um acúmulo localizado, simétrico e doloroso, que não desaparece com perda de peso e costuma poupar mãos e pés.
4. Somente mulheres têm lipedema?
Quase exclusivamente, sim. O lipedema afeta principalmente mulheres e está fortemente associado a alterações hormonais. Há casos raríssimos documentados em homens, geralmente relacionados a distúrbios hormonais severos.
5. O SUS cobre o tratamento de lipedema?
Atualmente, o SUS reconhece o lipedema como uma condição médica, mas o acesso ao tratamento ainda é bastante limitado. Algumas pacientes conseguem encaminhamento para fisioterapia e uso de meias de compressão. A cirurgia (lipoaspiração específica para lipedema) ainda não é coberta de forma ampla, mas há discussões sobre a inclusão do procedimento no rol da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) para planos de saúde.
6. Quais profissionais devo procurar para diagnóstico e tratamento?
Os especialistas mais indicados são:
- Angiologistas ou cirurgiões vasculares com experiência em lipedema.
- Endocrinologistas, para avaliação hormonal.
- Fisioterapeutas linfoterapeutas, para terapias de alívio e drenagem.
- Nutricionistas especializados em dieta anti-inflamatória.
- Psicólogos, para suporte emocional e autoestima.
Um tratamento eficaz é sempre multidisciplinar.
7. Qual é a diferença entre lipedema e linfedema?
O lipedema é um acúmulo de gordura dolorosa, enquanto o linfedema é um acúmulo de líquido linfático. No linfedema, geralmente há inchaço assimétrico e o inchaço atinge mãos e pés, o que não acontece no lipedema. No estágio 4 do lipedema (lipo-linfedema), ambas as condições podem coexistir.
8. Lipoaspiração resolve o lipedema?
A lipoaspiração para lipedema (também chamada de lipoescultura tumescente ou WAL) é uma alternativa eficaz em estágios mais avançados, quando a dor e o volume de gordura comprometem a mobilidade e a saúde. Ela não cura o lipedema, mas reduz significativamente os sintomas e melhora a qualidade de vida. Deve ser feita por especialistas capacitados, respeitando a segurança vascular e linfática da paciente.
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10. Referências Oficiais
- Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV)
- Hospital 9 de Julho
- Revista Poder – UOL
- SciELO – Estudo Nacional sobre Lipedema
- Mundo Educação – UOL
- Brasil Escola – UOL
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